Ontem um amigo resolveu zarpar desse mundo aos 33 anos, em plena primavera como minha irmã. Ele parecia muito com o Lobão (cantor), fisicamente e de comportamento, aquele jeito de quem tem uma certeza doida de suas verdades, custe o que custar. Músico de mão cheia, parceiro de minha velha amiga Vivian e papai de seu filhinho. Nós brigamos feio algumas boas vezes, mas a peleja durava pouco, pois algo se encontrava quando descobríamos predileções em comum, um livro do Richard Bach, os Ramones e uma cena de cinema, a da Amelie Poulain com o velhinho cego.
Eu, e isso é uma certeza máxima, não acredito em pessoas que dizem nunca ter tido uma angústia completamente enlouquecedora e cogitar, pelo menos, a possibilidade de sair ''de cena'' pra valer. E paradoxalmente, uma semana atrás da partida do Sr.
''Fernão Capelo Gaivota'', uma música não saía da minha cabeça, aquela dos Ramones,
I Believe In Miracles, como um disco riscado fiquei repetindo o refrão dementemente... agora está chovendo lá fora e dentro de casa, após quase três meses sem chuvas em São Paulo. A gente fica tentando se adequar a esse mundo idiota e começa a perder
identificação com nós mesmos, e quando não se aguenta mais e retrocede
tentando resgatar quem você realmente é, (e vai fundo nisso) acaba com a
sensação de desamparo e muito solitário.
O meu blog está de luto óbvio e com a esperança de que nasçam pessoas mais sensíveis e autênticas com o mínimo senso de coletividade, pois o cinismo egóico e fútil que tomou conta dessa geração já deu o que tinha que dar.